24 março 2006

A propósito da paridade

Estando eu embrenhada em argumentários sobre paridade, aqui vos deixo um pensamento que não vou usar, para reflexão:
«É próprio do poder (qualquer que ele seja) auto-preservar-se e auto-reforçar-se. (…) Não é de esperar uma mudança espontânea no acesso das mulheres ao poder político», salienta a investigadora Manuela Silva, em A Igualdade de Género – Caminhos e Atalhos para uma Sociedade Inclusiva (CIDM: 2002).

16 março 2006

Jornalistas em vias de extinção*

«Invocamos muitas vezes o papel que os jornalistas representam. Mas esta é uma classe em vias de extinção. O sistema já não quer mais jornalistas. E até já pode funcionar sem eles, ou com números muito reduzidos, como se estes fossem meros obreiros de uma cadeia de montagem, como Charlot em Tempos Modernos.» É assim que Ignacio Ramonet descreve o papel dos jornalistas no jornalismo do novo século, num artigo que escreveu na revista online La Factoría, em 1999. «No nosso tempo o jornalista está em vias de extinção. Estamos a assistir a uma dupla revolução, de índole tecnológica e económica. Podemos estar a experimentar uma segunda revolução capitalista que comporta muitas transformações no mundo da comunicação. Cada vez mais, à custa do directo e da força das imagens, o cidadão está cada vez mais em contacto directo como acontecimento», explica Ramonet: «Está a abrir-se o caminho à ideia de que o intermediário já não é necessário.»
In Público de 16 de Março de 2006
* O título é da autoria da jornalista Ana Machado

[A foto é DR]

12 março 2006

Ópera do Malandro

O material, já se sabia, é genial. O sucesso foi tão grande, no ano passado, que desta vez veio a equipa de primeira linha e não os substitutos. Cláudio Lins é o malandro, Max Overseas, e revela em palco ser merecedor do seu património genético. Lucinha Lins, a mãe, está irreconhecível no papel de Vitória, "a putona". Já o célebre actor de novelas Nuno Leal Maia, na pele de Fernando de Duran, não tem jeitinho nenhum para o canto. Os malandros e as prostitutas encarnam muito bem no papel. A cereja no topo do bolo é mesmo Geni. O grande momento é mesmo quando este/esta canta a música com o mesmo nome: "Joga pedra na Geni/ Joga pedra na Geni/ Ela é feita p'ra apanhar/ Ela é boa de cuspir/ Ela dá p'ra qualquer um/ Maldita Geni!" O final é apoteótico e impossível de acompanhar sem ser dançando. Desta vez ao som do próprio Chico Buarque, ausente mas sempre presente.
[A foto é DR]

08 março 2006

Mulher

Todos os anos, no mesmo dia, discute-se a situação das mulheres, reivindica-se a igualdade (alguns) ou a paridade (outros), elogia-se que elas já sejam uma presença maioritária em muitas das esferas da vida pública nacional, mas lamenta-se que ainda ocupem apenas dez por cento das posições de chefia e um quinto dos assentos parlamentares. Todos os anos, o Governo anuncia qualquer medida nova para mostrar que não se esquece de metade da humanidade. Todos os anos a mesma coisa. E muito pouco muda a partir do dia seguinte e até ao próximo 8 de Março. Por isso, a verdadeira celebração será o ano em que nenhum dia seja dia da mulher, porque todos serão dias de mulheres e homens, por igual. Nessa altura, teremos evoluído. Até lá, não me dêem rosas em troca de direitos.

06 março 2006

The Oscars

Não houve muitas surpresas e a coisa até acabou por ser dividida para agradar a todos. Valeu por Jon Stewart (na origem de uma abertura absolutamente inolvidável, há muito que não era tão boa) e por George Clooney, que, em vez do esperado anti-bushismo, optou por, associando-se, com orgulho, à Academia que o premiava como actor secundário, lembrar como esta esteve na vanguarda da evolução política e da justiça social. Reese Witherspoon estragou tudo, ao fazer um discurso 'too american girl'. Philip Seymour Hofman mereceu a distinção de melhor actor, mas David Strathairn, que representou o jornalista Edward R. Murrow, em Good Night, and Good Luck, poderia ter sido reconhecido com a mesma justeza (há anos que exigem duas ou três estatuetas para a mesma categoria). A perder, e com ele todos nós, saiu Good Night, and Good Luck, provavelmente o melhor filme a concurso. Os EUA não estavam preparados para olhar tão para dentro de si. Até porque o McCarthismo ainda paira no ar e ronda a Casa Branca. O melhor foi fazer de conta que o filme nem existia e ignorar que foi feito pelo excelente realizador e argumentista que Clooney tem mostrado ser. Jon Stewart ainda disse Good night, mas não teve 'guts' para acrescentar o Good luck.
[A foto é DR]

02 março 2006

Berlusconi


Silvio Berlusconi vai a votos em breve. Contra si: uma coligação de esquerda muito abrangente. Em fase de campanha, o primeiro-ministro-empresário-milionário-que-faz-liftings-faciais já tratou de usurpar o espaço mediático (do qual, aliás, é dono) e colocar entraves, que pouco têm a ver com critérios jornalísticos, à oposição para dar a conhecer as suas ideias e projectos. Em entrevista ao Diário de Notícias de 28 de Fevereiro, Vladimiro Guadagno, ou melhor Vladimir Luxuria, transsexual que integra as listas da Refundação Comunista, que integra a coligação de esquerda, às legislativas de 9 e 10 de Abril, respondeu assim à pergunta «Se a esquerda vencer, a oposição, liderada por Silvio Berlusconi, vai ser dura de combater, sobretudo nas questões que defende [casamento homossexual, facilitar mudança de sexo, legalizar drogas leves, criar zonas para prostituição, direito de asilo com base na orientação sexual]...»:
«(...) Não odeio Silvio Berlusconi. Ambos usamos saltos nos sapatos e maquilhagem nos programas de televisão. (...)» Para meio entendedor...