04 fevereiro 2008

Eldorado

«O Eldorado. Salvatore só pensava nisso. Sabia perfeitamente que navegava contracorrente do rio dos imigrantes. Que ia ao encontro de países em que a terra abre brechas de fome. Mas, ainda assim, havia um Eldorado, e não conseguia deixar de sonhar com ele. A vida que o esperava não lhe ofereceria ouro nem prosperidade. Sabia-o. Não era isso que procurava. Queria outra coisa. Queria que, nos seus olhos, brilhasse a centelha de determinação que tantas vezes lera, cheio de inveja, no olhar daqueles que interceptava.»

«O Eldorado. Sim. Tinha razão. Aqueles homens tinham matado a sede. Tinham conhecido a riqueza dos que não desistem. Dos que sonham sempre mais.»

«Imóvel, deixo-me penetrar pelos ruídos e pelos cheiros. Nunca mais voltaremos. Vamos abandonar as ruas da nossa vida. Nunca mais beberemos chá, aqui. Estes rostos em breve se tornarão indistintos e se confundirão na nossa memória. (…) Tenho vinte e cinco anos. O resto da minha vida desenrolar-se-á num lugar do qual nada sei, que não conheço e que porventura não escolherei. (…) Deixaremos aqui o nosso nome, pendurado nos ramos das árvores, como uma peça de roupa de criança que ninguém virá reclamar.»

«Foi com certeza por isto que me acerquei de Boubakar e o ajudei. Não para o salvar, mas para me salvar a mim. Se o tivesse deixado preso ao arame farpado, nunca mais poderia dormir em paz e teria pisado este novo solo sem um estremecimento de prazer.»

«A beleza dos homens está nas decisões que tomam.»
Excertos retirados do livro Eldorado, de Laurent Gaudé.