25 fevereiro 2006

Frida




A vida e o sofrimento eram coisas muito parecidas para Frida Kahlo. A exposição que está no CCB pode desiludir alguns, mas vale a pena espreitar, porque dá algumas pistas para entrar no universo da mulher que se pintava essencialmente a si própria, porque era o que conhecia melhor.
[As fotos são DR]

24 fevereiro 2006

Faço minhas as tuas palavras

A asneira é um direito inalienável
Por João Miguel Tavares

O direito à asneira é um pilar das sociedades livres e democráticas. Desde que não incitemos à violência ou difamemos o próximo, devemos ser livres de nos expressar como bem entendermos e de proferir as idiotices que nos trepam à cabeça. É por isso que encarcerar o britânico David Irving na Áustria só porque decidiu escrever uns livros foleiros sobre o Holocausto é uma tristeza imprópria de um país civilizado. Numa altura em que tanto se discute a legitimidade de publicar ou não os cartoons do profeta Maomé, é vergonhoso que um país europeu, que tantas dificuldades teve em lamber as feridas do nazismo, venha agora erguer o tabu do Holocausto para engaiolar um homem de 67 anos por afirmações que proferiu há quase duas décadas. Irving, hoje um historiador falido, desacreditado pelos colegas e um animador cultural de eventos de extrema-direita, está no direito de questionar a veracidade dos campos de extermínio e a morte de seis milhões de judeus. É estúpido, é desonesto, é de mau gosto - mas não deve ser proibido. De nada serve fazer dele um mártir da liberdade de expressão, um ícone dos neonazis ou uma desculpa para os fundamentalistas islâmicos e seus amigos acusarem o Ocidente de ter dois pesos e duas medidas. Nas ruas de Damasco deve andar gente a perguntar-se porque é que Auschwitz tem mais direitos do que Maomé. E, convenhamos, a pergunta não é inteiramente estúpida.Tendo resolvido há séculos o problema da separação entre o Estado e a Igreja, não faz qualquer sentido que a Europa ainda mantenha nos seus códigos penais a proibição de negar a existência das câmara de gás, recusar o genocídio dos judeus, editar o Mein Kampf ou preferir quaisquer outras blasfémias políticas, como se a História fosse Deus. Em tribunal, David Irving nem sequer foi capaz de assumir as ideias que defendeu toda a sua vida, acabando a fazer um mea culpa cobardolas para fugir a uma condenação de 10 anos de cadeia. Se esta era a força das suas convicções, não mereciam que se perdesse tanto tempo, dinheiro e paciência com elas.

23 fevereiro 2006

Reflexão

Mulher branca que quer ser preta deixa a terra de lábio cruzado

(Frase de anciã no filme Um Rio, de José Carlos de Oliveira, baseado na obra Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra, de Mia Couto)

22 fevereiro 2006

Liberdade de expressão

Só para confirmar como sou adepta da liberdade de expressão. E vocês sabem o quanto me custa, neste caso...

21 fevereiro 2006

Cidade dos Homens

Uma viagem às profundezas das favelas cariocas, através do olhar e das 'aventuras' de Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha). Imperdível para os fãs de Cidade de Deus. E para todos os que sabem que o Rio de Janeiro é mais do que uma cidade maravilhosa. Num dos episódios, os dois meninos descem à cidade e reparam que os mapas do Rio de Janeiro da gente rica não incluem os morros onde eles vivem. Em seu lugar, imensas zonas verdes. Desocupadas, como se ali não vivessem seres humanos.

http://cidadedoshomens.globo.com

20 fevereiro 2006

As democracias sabem rir-se de si próprias
















Importa esclarecer previamente quem me lê: sou jornalista e, acima de tudo, defensora dos direitos humanos e dos valores democráticos.
Dito isto, e porque esta história dos cartoons e dos subsequentes episódios começa a enervar-me, eis o que me ocorre dizer sobre o assunto.
Sei bem que a liberdade de expressão não é um direito absoluto, mas não admito que a queiram amarrar à suposta ética de resposabilidade social que previamente deve nortear as acções de todos, bla, bla, muito subjectivo, ninguém diria/faria mais nada na vida.
Os cartoons são isso mesmo: cartoons. Satirizam, ridicularizam, gozam, brincam, ferem. É isto uma democracia. Como dizia o António, esse grande cartoonista luso que fez-o-Papa-ter-um-preservativo no nariz, a Igreja Católica tinha direito à indignação e até a realizar um abaixo-assinado contra o dito cartoon; mas, este cartoon resultou, em primeira instância, do direito de indignação do António, ateu e democrata, face à decisão da Igreja de condenar o preservativo, condenando à morte milhares de pessoas. Ou seja, ele também se sentiu ofendido nos valores que tem por mais sagrados. Sim, os ateus também têm valores. E sagrados.

A liberdade de expressão é um valor essencial em democracia. E, até ter provas de que outro sistema político-social é melhor, quero continuar a viver em democracia. Só em democracia os povos/países são capazes de se rirem de si próprios e de todos - todos, sem excepção - os valores que têm por mais sagrados.
Deixo-vos com Churchill:

'Many forms of Government have been tried, and will be tried in this world of sin and woe. No one pretends that democracy is perfect or all-wise. Indeed, it has been said that democracy is the worst form of government except all those other forms that have been tried from time to time.'

Para aqueles que pensam como eu, eis uma petição que deviam assinar:
http://liberdade.home.sapo.pt/

17 fevereiro 2006

África


Foto de Finbarr O'Reill

Odeio e amo África, ao mesmo tempo e não necessariamente um antes e um depois. É o berço da contradição. Não das contradições, mas da contradição. Todas as palavras nasceram nalgum lado. Tenho a certeza que a contradição nasceu algures no continente onde um olhar pode ser, simultaneamente, descorçoado e esperançado. E onde a mesma mão pode ser recém-nascida e anos-vivida.

Interrogação

O olhar é o sentido que predomina na escrita?

16 fevereiro 2006

Adriana Lisboa

GEOGRAFIA

Na chapada tudo é grande. O céu só termina quando o seu olhar desiste, ou quando a miopia te vence. Caminhe o dia inteiro e confira no mapa: você só cobriu o espaço que basta ao seu cansaço. A chapada desafia os músculos, a garrafa d'água, a máquina fotográfica. O ar é demais e dói, ressecando seu fôlego neste junho marrom. Mas água do rio Preto é preta e transparente e seus pés não encontram fundo para o medo do mergulho. Sua voz não encontra timbre para o grito. Ao sublime inquieto do céu, seu pensamento é supérfluo. Mesmo sua vida é supérflua. O céu do cerrado desdenha das testemunhas e o sol se põe, metamorfose, catarse azul e amarela nas araras-canindé. Alguém disse que as montanhas aqui são para dentro. Você caiu na barriga do mundo, onde se desfaz tão rapidamente quanto qualquer alimento. A pele queima, a noite é fria, e as estrelas pulsam toda a galáxia insone enquanto você morre mais uma vez. Na chapada tudo é pequeno. Em meio metro de rio os peixes beliscam seus pés e as bolhas dentro d'água duram um segundo. A correnteza espelha trezentos minúsculos sóis. Trezentos milhões. Cor-de-rosa pela manhã, ao meio-dia as mimosas já são brancas. A poeira tem asas e agarra seu cabelo e nenhum branco das suas roupas dura mais do que cinco minutos. Mínimos vales lunares feitos de pedra e areia cabem entre dois passos. Na chapada você tem o tamanho dos seus olhos e da sua irrisória capacidade de assombro. Na chapada aquilo que te assombra é também o milagroso espaço de uma flor. De um inseto. Do animal que é só pegada e vestígio. No dolorido músculo da perna você encontra sua alma, que palpita, que inverte o cerco, que nasce mais uma vez.

In Caligrafias (2004)

Correntes d' Escritas

Espaço ibero-americano. Tentativa de combater a centralização cultural. Sete anos de idade. Decorre na terra onde nasci e à qual continuo a chamar 'casa': Póvoa de Varzim.

Alguns estilhaços:

A minha ideia não foi revolucionar a escrita literária, mas contar estórias com honestidade sobre ideias que tenho
Santiago Roncagliolo

Somos imortais mas não somos imorríveis
Alguém mais gostaria de se valer do privilégio de perguntar?

Ivan Junqueira

Trança e destrança
trança e destrança
In Os Aromas Essenciais, de Guita Júnior

Sou um preguiçoso praticante

Fernando Echevarria

Quando faço poesia, estilhaço, incendeio. Poesia é desobediência.

Maria Teresa Horta

Mar inocentemente assassino.
O passageiro imóvel, entre o partir e o ficar.
Ramiro Fonte

Partimos sempre mais do que chegámos.

José Rui Teixeira

O meu país é Maputo, o resto é quintal.
O processo de leitura é um processo individual e silencioso.
Quem tem sapatos, não sabe o que é não os ter. Quem tem Internet, não sabe o que é viver sem ela. Mas há 18 milhões que nunca a viram.
Guita Júnior

O Fernando Pessoa teria usado blogs se eles existissem na altura.
Luís Naves

O parto

Sempre achei que não precisava de um blog para nada e que, para mais, não teria tempo para o 'alimentar'. Mas hoje saí da mesa redonda dedicada ao tema da blogosfera, nas Correntes d' Escritas, com vontade de parir um blog. Aqui está. Será o meu espaço e o de quem quiser. Sem preocupações que não sejam as do registo - tanta coisa que tenho espalhada por blocos de notas que não sei onde param... - e da partilha. Com quem quiser partilhar. Este é um espaço sobre mim e sobre @ outr@.